Memórias Douradas — Uma facetia à brasileira
Entre a gargalhada e o suspiro, Memórias Douradas conduz o leitor a uma travessia entre o prazer e a reflexão. Escrita com humor refinado e uma ironia tipicamente brasileira, esta obra narra as peripécias amorosas de um bon vivant que, entre taças e travessuras, observa o colapso moral dos relacionamentos modernos — e o faz com a sutileza de quem distingue, nas minúcias do viver, as filigranas da alma que se escondem entre o desejo e a paixão.
Mistura de crônica de costumes e ensaio moral, o livro é uma sátira do romantismo líquido e das virtudes de fachada. Ao mesmo tempo em que diverte, rasga — e ao rasgar, revela.
Um texto para quem ainda sabe rir das paixões, refletir sobre os desejos e reconhecer, nas loucuras do corpo, o espelho imperfeito da alma.


O Delírio da Carne
Há livros que não se leem impunemente. O Delírio da Carne é um desses. Nascido sob a pena febricitante de Otto Bergamaschi, o volume ergue-se como uma crítica ao desejo — esse deus antigo, pagão e inexorável — diante do qual o corpo se curva e o espírito se revela.
Entre o sagrado e o profano, o autor compõe uma liturgia poética onde o verbo humano interliga-se aos suspiros divinos. Há, em cada verso, um embate entre o gozo e o pensamento, entre a fúria e a paixão. As relaxações, aqui, não são ornamentos: são matéria ontológica, filosofia dos sentidos, epifania do instinto.
O poeta não teme o abismo do corpo, antes o contempla com lucidez trágica e humor refinado. Como um Eça que tivesse lido o Cântico dos Cânticos sob a pena de Sade, ou um Machado que, ao dissecar a alma humana, resolvesse enfim sondar-lhe o ventre, Bergamaschi devolve à poesia sua antiga dignidade dionisíaca — o poder de fundir razão, desejo, espírito, verbo e vertigem.
Sua linguagem, ora requintada, ora crua, percorre o espectro da carne com a mesma naturalidade com que um místico atravessa os graus íngremes da revelação. Não há aqui vulgaridades — há rito, mágica vernacular. Cada poema é uma confissão metafísica em forma de suspiro real, um tratado sobre a alma através do corpo.
O Delírio da Carne é, pois, um livro que restitui à literatura o seu escândalo primeiro: o de ser humana. Um convite ao leitor para que, sem pejo nem pudor, reconheça em si mesmo a má herança da serpente — e, quem sabe, descubra que há mais teologia num beijo do que em muitos sermões da atualidade.



